Fotos: Bruno Gonzalez
“Não esquece de colocar aí que eu sou o Jura”. Essas foram as palavras ditas pelo cabo da Polícia Militar Juracy Alves Prudêncio, o Jura, 37 anos, ao chegar à sede da Delegacia de Repressão às Ações do Crime Organizado e Inquéritos Especiais (Draco-IE), na manhã desta quinta-feira, dia 27. Preso em casa, em Queimados, na Baixada Fluminense, por uma equipe da 3ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar (3ª DPJM), ele possuía um mandado de prisão preventiva expedido pela 2ª Vara Criminal de Nova Iguaçu por formação de quadrilha armada.
Lotado no 21º BPM (São João de Meriti), ele é apontado pela Polícia como líder da milícia conhecida como “Bonde do Jura” – que tem atuação nos municípios de Duque de Caxias, Nova Iguaçu, São João de Meriti, Nilópolis, Belford Roxo, Queimados e Mesquita. Na operação conjunta entre Draco e 3ª DPJM – batizada como “Descarrilamento” – outras oito pessoas foram presas: seis também eram PMs. A ação, que teve início às 4 horas, durou cerca de sete horas e percorreu toda a Baixada Fluminense.
Segundo a Polícia, o poder do grupo paramilitar não se reflete apenas no número de homicídios praticados pelo grupo na região – aproximadamente 100 vítimas em quatro anos –, mas também na relação promíscua entre o crime e a política.
Segundo candidato a vereador mais votado em Nova Iguaçu nas últimas eleições, Jura já esteve cedido à Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), onde trabalhou durante dois anos na segurança do deputado estadual Walney Rocha, que atualmente está ocupando o cargo de secretário de Obras de Nova Iguaçu. Ainda de acordo com a Polícia, o preso estaria recebendo apoio do deputado federal Nelson Bornier para se candidatar a deputado estadual, com o intuito de conquistar a imunidade parlamentar, para não responder na Justiça Comum pelos crimes praticados.
“Ele ficou à disposição do meu gabinete durante dois anos. Sempre foi correto comigo e nunca o vi fazendo nada de suspeito. Essa denúncia de envolvimento dele com uma milícia me causou estranheza e até me chateia o fato de que a própria PM é falha. Como pode a inteligência da corporação enviar um policial investigado para cuidar da segurança de um deputado?”, questionou Walney.
O PM Jura ficou à disposição do deputado estadual Walney Rocha durante dois anos, trabalhando na segurança do parlamentar
“Pedimos a ficha do policial e confiamos no que está no papel. É uma pessoa que fica perto da nossa família. Mas se o governador não sabia, como um deputado pode saber?”, ressaltou, referindo-se à prisão em flagrante do cabo da PM Emerson Meirelles, no último sábado. Lotado na Diretoria Geral de Pessoal (DGP), estava cedido ao Gabinete Militar do Palácio Guanabara e era um dos responsáveis pela segurança da família de Sérgio Cabral Filho. Ele foi acusado de integrar uma milícia que atua na Zona Oeste do Rio e de cometer uma chacina na Ilha de Guaratiba.
Em 2004, pela coligação Aliança Popular do Trabalho (PPS/PRTB), Jura teve apenas 726 votos. No entanto, quatro anos depois, pelo PRP, foi o segundo candidato a vereador mais votado: obteve 9.335 votos, mas não foi eleito porque a Justiça impugnou três candidatos de sua legenda. Ele ficou atrás somente de Carlos Eduardo Moreira da Silva (DEM), com 178 votos a menos. A equipe do Jornal POVO do Rio entrou em contato com a assessoria de imprensa do deputado federal Nelson Bornier mas, até o fechamento desta edição, nenhuma resposta foi enviada.
Investigações feitas não só pela Draco e pela Corregedoria da PM, mas também pela Polícia Federal, demonstraram que, quando não estava fazendo campanha política, Jura estava tentando convencer outros grupos menores a se juntarem a ele. Os que não aceitavam, eram eliminados.
“Ele eliminou os grupos pequenos que não queriam permitir a presença avassaladora dele. O lema era: “é oposição, fogo neles””, destacou o inspetor Jorge Gerhard, chefe da Inteligência da Draco, revelando que na última segunda-feira houve uma troca de tiros por disputa de território, em Nova Iguaçu.
O delegado Alexandre Capote informou que o PM – juntamente com Ubiraci Araújo da Fonseca, o Bira, que continuava foragido, até a noite de ontem – foi denunciado por tentativa de homicídio pela 4ª Vara Criminal de Nova Iguaçu. A vítima foi Josias Faustino Rodrigues, o Nino, que faria parte da milícia conhecida como “Grupo do Pará”, que atua em Comendador Soares, bairro de Nova Iguaçu. O líder dessa quadrilha, Carlos Alberto Ezequiel, o Pará, foi assassinado, em 2007.
“Ele foi denunciado por essa tentativa de homicídio e é investigado pelo assassinato de Pará. Além de informações chegadas através do Disque-Denúncia, também temos vários relatos de testemunhas afirmando que o Jura abordava outros milicianos. Um dos grupos que aceitou era muito ligado ao Batman e aproximou os dois”, declarou Capote.
A aproximação com o ex-PM Ricardo Teixeira da Cruz, o Batman, 40, – feita pela Milícia do Pantanal – fez com que o Bonde do Jura se tornasse aliado da Liga da Justiça.
“Um grupo oferecia esconderijo para outro, quando havia integrantes fugindo da Polícia e também havia empréstimo e troca de armas, além de apoio nas eleições”, ressaltou o delegado.
Os policiais saíram pra cumprir 14 mandados de prisão e 16 de busca e apreensão. Todos foram expedidos pela 2ª Vara Criminal de Nova Iguaçu. Todos os nove detidos na ação desta quinta-feira já estão denunciados pela Justiça por formação de quadrilha armada. Além de Jura, outro PM, conhecido como Cabral, vinha ameaçando de morte integrantes da 3ª DPJM e o delegado da PF Robson Dartagnan Nunes Barbosa. Até o mês passado, ele chefiava Delegacia da Polícia Federal de Nova Iguaçu, mas foi transferido para Pernambuco, para ser Delegado Regional Executivo da Superintendência da Polícia Federal naquele estado.
Na Rua Fernando Borges, no bairro Palhada, em Nova Iguaçu, agentes da Draco chegaram até a casa de Bira, que seria o responsável pela segurança clandestina. Ele foi denunciado, juntamente com Jura, pela tentativa de homicídio contra Nino – integrante do Grupo do Pará, que se recusou a integrar o Bonde do Jura.
Os outros presos na operação Descarrilamento foram: Daniel de Lima Machado, o Cabeça, 28; Wilson Pereira Júnior, o Didi, 47; os soldados Eduardo Cardoso Livramento, o Dudu, 28, e Marcelo Anderson de Moraes Loureiro, o Trololó, 34, ambos lotados no 3º BPM (Méier); o soldado César Sisnande dos Santos, o Chorrão, 32, lotado no 39º BPM (Belford Roxo); os cabos André Barbosa Cabral, o Cabral, 37, e Antônio Marcos do Carmo Peixoto, o Peixoto, 31, lotados, respectivamente, no 6º BPM (Tijuca) e no 1º BPM (Estácio); e o sargento Sérgio Pereira Reis, 46. Este último está lotado no 20º BPM (Mesquita), mas se encontra de Licença para Tratamento de Saúde (LTS), desde fevereiro, quando foi alvo de uma tentativa de homicídio e acabou baleado no momento em que saía de casa, no bairro de Austin, em Nova Iguaçu.
Os cinco foragidos – sendo que um é ex-policial militar e dois são PMs – são: Ubiraci Araújo da Fonseca, o Bira; Washington das Neves Mello; os PMs Flávio Cândido da Silva e Marcos de Paula Toledo, lotado no 21º BPM; e o ex-PM José Carlos Valle da Silva, o Valle – que era lotado no 23º BPM (Leblon), até abril deste ano, quando foi expulso da corporação, acusado de envolvimento com transporte alternativo.
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