Nem mesmo um assassinato fez com que uma casa lotérica fechasse as portas, no início da tarde desta quinta-feira, dia 6 de outubro, no bairro Largo da Batalha, na Região de Pendotiba, em Niterói. Dezenas de pessoas esperavam para serem atendidas no estabelecimento Largo da Sorte Loterias, na Avenida Rui Barbosa, e formavam uma fila que dobrava até a Rua Nilo de Freitas quando dois homens em uma moto preta se aproximaram e pararam em frente à loteria.
Um deles, que usava capacete, desceu do veículo e foi em direção ao ex-presidiário Carlos Magno Mendes da Conceição, o Vaguinho, 32 anos, que estava acompanhado pela namorada e segurava um bebê. Ao perceber a aproximação do criminoso, ele entregou a criança à mulher, que ficou em estado de choque após assistir a execução. Atingido por um tiro de pistola na cabeça, Vaguinho – que estava em liberdade desde 2007 – morreu no local.
“No momento do tiro, todo mundo saiu correndo, menos o último homem da fila, que chegou a comemorar por ter conseguido entrar na loteria. Ele riu, levantou as mãos pro alto e disse “até que enfim”. Ele ia somente pagar uma conta, mas acabou aproveitando para apostar na MegaSena”, contou o funcionário de um bar localizado em frente à casa lotérica.
Além da MegaSena acumulada há oito sorteios – com previsão de prêmio recorde de R$ 115 milhões, de acordo com a Caixa Econômica Federal (CEF) – a greve dos bancos, que atinge 7.437 agências em todo Brasil, tornou intenso o movimento na loteria, a única da região, durante todo o dia de ontem. Nem mesmo o corpo e o sangue que se espalhou na calçada em frente ao estabelecimento comercial afastou os clientes.
Casado há dez anos e pai de um menino de 5, o ex-presidiário morava na Favela Novo México, no bairro Tribobó, em São Gonçalo, e ficou preso durante três anos. A mãe dele, uma camareira de 48 anos que tem outras quatro filhas, contou que Vaguinho – que era seu filho mais velho – havia saído da cadeia em 2003 e dizia que estava trabalhando.
“Eu não sei em quê. Ele morava com a mulher e como eu trabalho muito, não tinha muito contato. Depois que os filhos crescem, a gente perde o controle sobre eles. Eu ficava tranqüila porque ele já estava casado há dez anos e tinha a família dele”, disse.
Preso por porte ilegal de arma em abril de 2001 e autuado na 78ª DP (Fonseca), Vaguinho voltou a ser preso em flagrante na área da mesma delegacia por tráfico de drogas, em agosto de 2003 – tendo sido condenado a três anos de prisão pela 1ª Vara Criminal de Niterói.
O comandante do 12º BPM (Niterói), tenente-coronel Ruy Sérgio França de Oliveira, esteve no local e afirmou que todas as possibilidades estão sendo investigadas.
“Como está havendo uma guerra entre traficantes rivais naquela região, vamos apurar se esse crime está relacionado às recentes mortes ocorridas lá. Os problemas acontecem no município vizinho e acabam sobrando pra cá”, ressaltou o oficial.
Na noite da última segunda-feira, dia 4 de outubro, o ajudante de pedreiro Maicon de Souza Pereira, 19, foi assassinado no encontro da Estrada da Fazendinha com a Rua João Ricardo, na Favela Novo México. Ele foi a quinta vítima, em um período de 34 dias, nos bairros que dividem os municípios de São Gonçalo e Niterói pela RJ-104 (Niterói-Alcântara).
Horas antes, Vinícius de Fernandes Barros, 20, que também era morador do Novo México, foi morto a tiros na Avenida Desembargador Nestor Rodrigues Perlingeiro, principal via de Santa Bárbara. Na noite do dia 30 de agosto, dois menores – de 14 e 15 anos de idade, respectivamente – foram brutalmente assassinados, em frente à Praça João Saldanha, um dos pontos mais movimentados daquele bairro. De acordo com testemunhas, ocupantes de um carro se aproximaram do local e perguntaram o nome dos dois rapazes. Em seguida, efetuaram diversos disparos contra os adolescentes.
Na manhã seguinte, José Augusto Fantin, o Vaca, 30, foi morto a tiros dentro de sua residência, localizada na Rua 14, também em Santa Bárbara. Agentes da 73ª DP (Neves) e da 78ª DP (Fonseca) investigam uma disputa travada entre traficantes ligados às facções Comando Vermelho (CV) e Amigos dos Amigos (ADA) pelo controle da venda de drogas nas bocas-de-fumo de Santa Bárbara e Novo México.