Corpo de Pitbull é enterrado em Botafogo

Fotos: Pedro Pantoja

Cerca de 200 pessoas acompanharam o enterro do corpo do traficante Leandro Monteiro Reis, o Pitbull, no Cemitério São João Batista, em Botafogo, na Zona Sul do Rio, na tarde de sexta-feira, dia 30. Ele foi enterrado na gaveta 1564, na quadra 1, sob gritos de “guerreiro”.

“Ele morreu como um guerreiro. Não deixou ninguém pegar ele não. Correu e conseguiu fugir. Não morreu na mão da Polícia e nem na mão dos Terceiro”, gritou uma mulher durante o cortejo.

Integrante da facção criminosa Comando Vermelho (CV) e pertencente à família que domina o tráfico de drogas no Complexo da Mangueira, em São Cristóvão, na Zona Norte do Rio, desde a década de 80, Pitbull morreu no final da tarde de quarta-feira, sete horas após ter sido baleado em confronto durante incursão de policiais civis na favela.

Sobrinho de Francisco Paulo Testas Monteiro, o Tuchinha, 43 anos, e primo de Alexander Mendes da Silva, o Polegar, ele trocou tiros com equipes da Delegacia de Combate às Drogas (DCOD), da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) e da Delegacia Especial de Apoio ao Turista (Deat), na localidade conhecida como Buraco Quente, por volta das 9 horas do dia 28, eu entrada às 16h30 no Hospital Municipal Souza Aguiar, no Centro, já sem vida.

O enterro aconteceu 24 horas após o previsto, devido a um contratempo no Instituto Médico Legal (IML) para liberação do corpo. O advogado do traficante, Ésio Lopes, afirmou que o atraso ocorreu porque não havia ficha papiloscópica de seu cliente no Instituto Félix Pacheco (IFP).

“Eles teriam o direito de permanecer com o corpo por 72 horas, mas o diretor do IML entendeu que isso não era necessário, tendo em vista que a autópsia já havia sido feita e meu cliente foi reconhecido pela família”, explicou.

Cinco viaturas do 13º BPM (Praça Tiradentes), sendo duas descaracterizadas, acompanharam a kombi da funerária Último Adeus da saída do IML, no Centro do Rio, até a chegada no cemitério, onde equipes do 2º BPM (Botafogo) já aguardavam. A intenção da escolta era impedir que o corpo do traficante passasse pela Mangueira e o trajeto foi percorrido pelo Aterro do Flamengo, para evitar morros e favelas controlados por facções rivais.

“Havia um pedido da família, mas para evitar qualquer tumulto, a Polícia aconselhou a não fazer velório na comunidade e nem passar com o carro por lá”, revelou o advogado.

Da Mangueira, ônibus e kombis saíram escoltados por viaturas do 4º BPM (São Cristóvão). No entanto, não houve registro de tumultos. Apenas dois incidentes foram registrados: a vaidade das mulheres do traficante, que queriam disputar o posto de viúva, e o abuso de criminosos que enviaram coroas de flores com a inscrição “CVRL” – uma alusão à facção Comando Vermelho e a seu fundador, Rogério Lengruber, o Bagulhão.

O primeiro incidente teve início ainda na porta do IML, quando duas mulheres se apresentaram como companheiras do traficante. Uma delas acabou indo embora. Horas depois, já no cemitério, outras supostas amantes de Pitbull começaram a se estranhar e foram repreendidas por uma tia do traficante, que as alertou de que não queria confusão no enterro do sobrinho. O alerta aconteceu em meio a gritos e palavrões.

Pouco depois, agentes do Serviço de Inteligência (P-2) do 2º BPM flagraram um funcionário da loja de flores Flora Real Grandeza, que funciona em frente às capelas, entregando uma coroa com a inscrição da facção criminosa. Houve um princípio de confusão quando os PMs exigiram que a faixa fosse retirada. O comandante do 2º BPM, tenente-coronel Gileade Albuquerque, ameaçou fechar a loja e prender os donos e funcionários por apologia ao tráfico de drogas.

Ao todo, 30 coroas foram enviadas ao traficante morto. Entre elas, havia flores enviadas por criminosos do Jacaré, Cidade Alta, Tuiuti, Manguinhos, Complexo da Penha, Pavão, Pavãozinho e Cantagalo. Todas têm bocas-de-fumo controladas pela mesma facção da qual Pitbull fazia parte.

Enquanto policiais do 2º BPM e do 4º BPM garantiam a segurança e a ordem nas proximidades da capela e do cemitério, equipes dos Grupamentos de Ações Táticas (GAT) do batalhão de Botafogo, 19º BPM (Copacabana) e do 23º BPM (Leblon) ocupavam a Ladeira dos Tabajaras, que faz divisa com o São João Batista. Na chegada dos PMs à favela, houve troca de tiros e um criminoso foi baleado. Com ele, os policiais apreenderam uma pistola nove milímetros.

Socorrido pelos próprios policiais, ele foi levado para o Hospital Municipal Rocha Maia, em Botafogo. Os PMs também apreenderam duas cangalhas de fogos de artifício. Os artefatos seriam utilizados no momento em que o corpo de Pitbull estivesse sendo enterrado, como forma de fazer uma homenagem ao traficante. O registro foi feito na 10ª DP (Botafogo).

Chevette é o substituto de Pitbull
Levantamento de agentes do Serviço de Inteligência (P-2) do 4º BPM (São Cristóvão) apontou o criminoso Vinícius de Lima Pereira, o Chevette, como substituto do traficante Leandro Monteiro Reis, o Pitbull, que estava à frente do Complexo da Mangueira há pouco mais de um ano. Ele era o segundo homem na hierarquia do morro e braço direito de Pitbull, que assumiu as bocas-de-fumo do local por determinação de seu tio, Tuchinha.