Estava esses dias querendo me pronunciar sobre um assunto, mas não estava tendo tempo para organizar meus pensamentos e escolher as palavras…
Vieram me acusar – mais uma vez – de defender a Polícia. Eu sempre evito incentivar esta discussão, mas acho que chegou a hora de falar abertamente sobre o assunto. Ainda que eu saiba que de nada vai adiantar. Quem quer pensar, acreditar e dizer que eu defendo A ou B, vai continuar pensando, acreditando e dizendo.
Mas, me pergunto: onde estão os bons jornalistas? Os bons repórteres? Aqueles que ainda sabem o que é fazer o contraditório – e ainda o fazem.
Um outro jornal aqui da região – onde eu também já trabalhei – publicou matéria sobre denúncia de um desempregado que acusava PMs de tortura. Até aí, se está na pauta, tudo bem.
Eu até também publiquei a mesma matéria (quero dizer, mesma, não). Cobri a mesma pauta. Mas ouvi a versão dos acusados.
Será que é tão difícil deixar que todos os envolvidos e citados numa reportagem se pronunciem? Será que é tão difícil ouvir todos os lados??
Para mim, é óbvio que a inversão de valores já existe, faz tempo, em vários âmbitos de nossas vidas, de nossas rotinas, de nossos cotidianos. Mas eu luto para reverter esse quadro, e não para me adequar a ele…
Agora, a inversão de valores chega ao Jornalismo…
Eu dou voz não só ao acusador, mas também aos acusados, e sou acusada de proteger a Polícia.
Ora… Isso não é proteção… Isso não é favor… Isso é dever. Responsabilidade minha.
Se eu dou oportunidade da pessoa se defender, dar sua versão, é direito dela querer falar ou não. Se ela não fala, paciência. Não quis se pronunciar. Mas se ela quer, como vou virar as costas, tapar os ouvidos, ignorar??
Isso é defender a Polícia? Isso é defender os policiais?
Ou isso é defender o direito que eles (também) têm de ter direitos? O principal deles – o de se defender…
Acho engraçado… Existem pessoas que defendem os direitos das crianças, do meio ambiente, dos animais de rua, e até gente que defende os direitos de bandidos, assassinos, assaltantes, seqüestradores…
Por que quando aparece alguém que – julgam eles – defende os direitos de um policial (seja um, sejam vários, seja a pessoa ou a instituição), as pessoas se tornam tão indignadas???
Sinceramente? Vou parar de me preocupar com esse título “defensora de Polícia”. Não vão conseguir me fazer ter vergonha por fazer o que é certo. E continuarei dando a César o que é de César.