Arquivo de 4 de março de 2011

Empossada há duas semanas à frente da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro (PCERJ) com discurso em defesa da ética, a delegada Martha Rocha chamou a atenção logo nos primeiros atos de sua gestão com medidas rígidas de moralização da instituição. Entre elas, a devolução de um camarote cedido pela Liga das Escolas de Samba (Liesa) à PCERJ, em virtude do envolvimento da Liga com integrantes da contravenção.

Nesta quinta-feira, dia 3 de março, entretanto, Martha Rocha voltou atrás em uma medida, que, se fosse aplicada, destoaria do rigor ético das demais.

Uma canetada da delegada no início do mês beneficiou duas assessoras pessoais – entre elas uma que a acompanha há anos em todas as unidades policiais em que trabalhou – com um aumento de R$ 650 nos rendimentos. O Boletim Interno da instituição publicado na última terça-feira, dia 1º de março, determinou a remoção da comissária de Polícia Suely Gusso Elias e da inspetora Paula de Albuquerque Santos, ambas lotadas na Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) do Centro do Rio para a Coordenadoria de Recursos Especiais (Core).

A mudança de delegacia legal para a especializada faria saltar a gratificação recebida pelas duas de R$ 850 para R$ 1.500, embora ambas continuassem trabalhando na assessoria de gabinete de Martha Rocha e não desempenhassem funções na Core.

No fim da tarde de quinta-feira, dia 3, a Chefia de Polícia republicou o Boletim, de acordo com a assessoria da instituição, para efetuar “correções em erros” que teriam sido publicados no documento anterior. Curiosamente, os itens alterados abrangem apenas o anúncio da remoção das duas servidoras.

O novo texto altera a remoção de Suely para a subchefia administrativa da Polícia Civil. Já a inspetora Paula permanece na assessora do gabinete de Martha.

Para o diretor jurídico do Sindicato dos Policiais Civis do Rio de Janeiro (Sindpol), Francisco Chao, a baixa remuneração dos policiais e a política do Estado de remunerar cada vez mais através de gratificações em detrimento de aumentos reais estimula o uso indevido dos atos administrativos.

“O Estado é que fomenta essa situação, que é rotineira e não acontece só nessa gestão. É até razoável que policiais que trabalhem na assessoria direta da chefia de Polícia, que exige dedicação integral, recebam mais. Quem está no poder acaba usando a máquina administrativa para melhorar a situação de funcionários mais próximos que têm que lidar com os baixos salários da instituição e um sistema de gratificações que divide os policiais, embora a realidade mostre que não importa se na Core ou na 22ª DP a carga de trabalho, exigência e risco seja a mesma”, diz Chao, acrescentando que o caso de policiais lotados em delegacias e desempenhando funções em outros locais é corriqueiro na instituição.

“Existem muitos outros policiais nessa situação”, concluiu.