Arquivo de 16 de março de 2009

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Dois meses após gravar um vídeo onde pedia ajuda e denunciava integrantes do grupo de milicianos conhecido como Comando Chico Bala, o técnico em imobilização ortopédica Maciel Paiva de Souza, 29 anos, foi preso por equipes da Divisão de Capturas e Polícia Interestadual (DC-Polinter), acusado de pertencer à milícia rival, intitulada Liga da Justiça. A prisão foi efetuada na Favela do Barbante, em Inhoaíba, na Zona Oeste do Rio, onde ele já havia escapado de um atentado, no início do ano. O conteúdo do vídeo foi publicado com exclusividade aqui.

Além de Maciel, também foram presos o segurança André Vieira Costa de Paiva, 37, o motorista de transporte alternativo Jonatan Lopes, o Baleia, 24, e o guardião de piscina João Rafael dos Prazeres, o Rafa ou JJ, 23. Todos negam envolvimento com a milícia que disputa áreas de Campo Grande e, com exceção de Maciel, nenhum deles possuía passagens pela Polícia.

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Ao ser apresentado à imprensa, o técnico em mobilização ortopédica pediu para falar e afirmou que estava sendo preso por ter sido o responsável por denunciar os delegados Marcus Neves e Eduardo Soares, respectivamente titular e adjunto da Polinter, quando estes ainda eram lotados na 35ª DP (Campo Grande).

“Eu procurei a Corregedoria da Polícia Civil e denunciei as arbitrariedades que os dois cometiam. Fui preso injustamente por eles e inocentado pela Justiça. Depois disso pedi proteção, mas nunca recebi. Ficava dormindo cada dia em uma casa diferente. Parei de trabalhar e passei a ser sustentado pela minha mulher, que trabalha em dois hospitais. Quando me prendeu, o Eduardo falou que eu merecia estar na vala e disse que tudo que eu tinha pedido estava arquivado”, afirmou Maciel.

No dia 12 de junho do ano passado, Maciel foi detido juntamente com Vanderson Navegantes Azevedo, Luciano Sabino da Silva e outros conhecidos identificados como Daniel e Ralff no interior do Condomínio Parque dos Eucaliptos. Na ocasião, eles foram levados para a 35ª DP.

‘Perguntei se estávamos presos. Eles disseram que não estávamos presos, mas que não podíamos falar com ninguém. Às 14 horas do dia seguinte o Daniel foi liberado. Após cerca de 30 horas de prisão eles tentaram nos convencer a assinar um flagrante de formação de quadrilha, mas nos recusamos. Tentei cortar meu pulso em desespero e só depois disso tivemos acesso a advogado, família e alimento”, relatou, contando que foram transferidos para a carceragem da 39ª DP (Pavuna) três dias após a prisão.

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“Às 14 horas de sábado, dia 15 de junho, fomos transferidos para a Pavuna, onde ficamos 42 dias acautelados. O novo delegado da delegacia de Campo Grande me chamou e eu inclusive fiz reconhecimento de pessoas acusadas de envolvimento com a milícia através de fotos. Ele me disse que eu podia ficar tranqüilo, que as equipes da 35ª DP tinham mudado e por isso eu voltei a sair de casa. Quando me prenderam, eu estava no bar”, afirmou.

Já o delegado Eduardo Soares, adjunto da Polinter, informou que Maciel e todos os outros três presos são envolvidos com o ex-policial militar Ricardo Teixeira Cruz, o Batman, e disse que os quatro foram autuados em flagrante por receptação, formação de quadrilha e porte de arma compartilhada. O delegado também revelou que Maciel, Baleia e Rafa são acusados pela tentativa de homicídio sofrida por um despachante de van há duas semanas. Eles teriam sido reconhecidos pela vítima.

“Policiais em viaturas descaracterizadas foram até Campo Grande após receberem uma denúncia de que havia uma pessoa seqüestrada no interior da Favela do Barbante. Uma dessas viaturas foi abordada pelo grupo, que estava em um Doblô e queria saber o que eles estavam fazendo ali. Depois que foram liberados, os policiais pediram reforço”, relatou.

Em apoio, dezenas de equipes da Polinter, da Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas (DRFC), da Delegacia de Roubos e Furtos de Automóveis (DRFA) e da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), além de dois helicópteros da Polícia Civil, foram para a região.

“O helicóptero localizou o Doblô no interior da favela e os policiais se dirigiram ao endereço, onde os quatro foram presos. Há duas facções disputando o controle em Campo Grande. Uma delas é do Chico Bala e a outra é do Batman, que é a da qual eles fazem parte”, declarou.

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Procurado pela tentativa de invasão ocorrida ao Destacamento de Policiamento Ostensivo (DPO) de Sambaetiba, em Cachoeiras de Macacu, na sexta-feira 13, o ex-policial militar Alexandre da Silva Monteiro, o Popeye, 38 anos, vai a júri popular no próximo dia 30 de abril pelo crime que ficou conhecido como “Chacina do Bar do Wilson”, ocorrido em 2005. Na ocasião, três pessoas morreram e duas ficaram feridas. Ele e outras cinco pessoas chegaram a ficar dois anos e oito meses presos pelo crime. Entre os outros acusados, os também ex-PMs Eduardo Chagas, Carlos Mendes da Silva Filho e Alan Moreira da Silva. O irmão deste último, também ex-PM, foi um dos presos após a tentativa de invasão ao DPO que deixou um policial militar morto e outro ferido.

Todos foram expulsos da corporação devido à ação pela qual serão julgados daqui a pouco mais de um mês. Os outros dois acusados são Nazareno Alves Silva e o ex-policial civil Josimar José da Silva, o Mazinho. Todos estão indiciados no processo número 2005.205.003910-2 da 1ª Vara Criminal de Campo Grande, por homicídio qualificado mediante paga e à traição (três vezes) e tentativa de homicídio qualificado para assegurar a execução de outro crime (duas vezes), além de formação de quadrilha ou bando armado.

Os cinco homens seriam integrantes da milícia Comando Chico Bala (CCB), que assumiu os pontos que pertenciam ao grupo Liga da Justiça, após a prisão da maioria de seus membros, que acabou fragilizando o poder do ex-PM Ricardo Teixeira Cruz, o Batman – que já não detém a hegemonia do controle das áreas dominadas por grupos paramilitares em Campo Grande, na Zona Oeste do Rio.

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Os criminosos tinham a intenção de roubar quatro fuzis e três pistolas calibre 40 do DPO de Sambaetiba. As armas iriam fortalecer o paiol dos milicianos, que pretendiam expulsar traficantes ligados à facção Comando Vermelho (CV) que dominam a venda de drogas no Complexo da Reta – composto pelas favelas Reta Nova, Reta Velha, Conjunto Morar Feliz e BNH – em Itaboraí, e assumir o controle da região. Por ficar localizado em um ponto ermo e distante dos centros de Itaboraí e de Cachoeiras de Macacu, o posto de policiamento foi escolhido para a ação criminosa.

Na tentativa de invasão, os bandidos encontraram resistência dos três policiais militares do 35º BPM (Itaboraí) lotados no DPO. Atingidos no confronto, o sargento Yolando Flávio Silva, 38, e o cabo Robson da Silva Reis, 35, foram socorridos e levados para o hospital. O sargento não resistiu aos ferimentos. O cabo, baleado nas nádegas e na mão, continuava internado, até a manhã de ontem, mas não corre o risco de morrer.

Quatro homens foram presos após o crime: os ex-PMs Anderson Moreira da Silva, 34, e Marcelo de Oliveira Andrade, 37, além de Aluízio Barbosa Teixeira e Willian Pereira da Silva, ambos de 32. Este último foi baleado no rosto. Policiais do 35º BPM e da 71ª DP (Itaboraí) chegaram até um sítio que havia sido alugado há pouco mais de um mês a poucos metros do DPO de Sambaetiba. O local possuía churrasqueira, piscina, lago, campo de futebol, quadra de vôlei e ampla área de lazer.

No endereço, os policiais encontraram documentos de Popeye um laptop onde havia fotos dos milicianos e agenda com os telefones de supostos integrantes da quadrilha.

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Lotados no 35º BPM (Itaboraí), o sargento Yolando Flávio Silva, 38 anos, e o cabo Robson da Silva Reis, 35, foram baleados no interior do Destacamento de Policiamento Ostensivo (DPO) de Sambaetiba, em Cachoeiras de Macacu, na madrugada de ontem. Eles estavam de serviço quando ocupantes de um Palio branco pararam e se dirigiram ao posto insinuando querer informações. Quando se aproximaram dos PMs, eles começaram a atirar. O sargento foi o primeiro atingido e sequer teve tempo de reagir. O cabo e um outro policial lotado no DPO sacaram suas armas e deram início a um confronto. Enquanto o sargento foi baleado várias vezes, Robson foi atingido na mão e nas nádegas. O primeiro não resistiu aos ferimentos.

Logo após o crime, diversas equipes do 35º BPM, incluindo agentes do Serviço de Inteligência (P-2) e do Patrulhamento Tático Móvel (Patamo) da unidade, com apoio de viaturas da Força de Ações Táticas (FAT) do 4º Comando de Policiamento de Área (4º CPA), do Grupamento de Ações Táticas (GAT) do 7º BPM (São Gonçalo) e da Companhia Independente de Polícia Militar (CIPM) Cães, além de auxílio do helicóptero do Grupamento Aeromarítimo (GAM), realizaram buscas em toda a região. No final da manhã de ontem, seis pessoas foram presas. Entre elas, o ex-PM Marcelo Oliveira Andrade. Com eles, foram apreendidas uma espada ninja e munições para diversos calibres.

O ex-PM Andrade foi expulso da corporação após ser acusado de envolvimento em assaltos a mão armada e saiu da cadeia em setembro do ano passado. Ele seria visto constantemente na companhia do sargento Francisco César de Oliveira, o Chico Bala, é acusado de praticar diversos homicídios na região de Inhoaíba e Santa Margarida, na Zona Oeste do Rio, e foi apontado como executor do sargento Edson Pinheiro de Matos, que foi investigado na morte do diretor do Hospital Central dos Bombeiros, coronel Walter Oliveira dos Santos. O PM foi assassinado no dia 15 de outubro de 2008, em um bar próximo a uma casa de shows em Campo Grande. Ele estava acompanhado por Luciano Pedro da Silva, o Marmita, que também morreu.

No dia 9 de fevereiro, publicamos aqui matéria exclusiva revelando que o sargento Francisco César de Oliveira, o Chico Bala, havia perdido o porte de arma. O PM, que ajudou a Polícia Civil a desmantelar o grupo de milicianos conhecido como Liga da Justiça e que está sendo acusado de tomar os pontos perdidos pela quadrilha na Zona Oeste do Rio, está sendo submetido ao Conselho de Disciplina da corporação. A decisão saiu publicada na página 45 do boletim interno da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro número 216, de 17 de dezembro. Além de ter tido seu porte de arma revogado, teve sua carteira funcional acautelada. As mesmas sanções foram estabelecidas para o cabo Ronaldo Sílvio Guerino Bortolozzo, que trabalha na mesma unidade e seria um dos seguranças de Chico Bala.

As punições foram definidas após sindicância a que os dois PMs foram submetidos para apurar as circunstâncias que os levaram a participar de operação policial realizada por equipes da 35ª DP (Campo Grande), no dia 12 de julho do ano passado. Na ocasião, Chico Bala usava colete e camiseta com a inscrição “Polícia Civil”, e andava no interior de viatura caracterizada e com armamento daquela instituição, sem estar autorizado pela PMERJ. Além disso, ele foi acusado de ter feito ameaças a moradores de Campo Grande.

Além de estar sendo submetido ao Conselho de Disciplina da Polícia Militar, resultado de sindicância aberta pela corporação, Chico Bala também responde à sindicância instaurada pela Corregedoria Geral Unificada das Polícias Civil, Militar e Corpo de Bombeiros Militar, assim como o delegado Marcus Neves Pereira e o ex-PM Alexandre da Silva Monteiro, o Popeye.

A decisão foi publicada na página 53 do boletim da PM de número 9, de 15 de janeiro deste ano, e foi tomada após cinco pessoas – entre elas, um cabo da Polícia Militar – terem denunciado Popeye e um criminoso conhecido como Camelo por um duplo homicídio ocorrido no dia 1º de agosto de 2008, na área da 35ª DP.

Os denunciantes também revelaram que estavam sendo ameaçados pelos dois e pelos demais integrantes do grupo conhecido como Comando Chico Bala, rival da Liga da Justiça e composto, além de Popeye e Camelo, por Chico Bala, Escangalhado, Gaguinho, Neném, Andrade e Sandrinho. Em outra parte da denúncia, eles afirmaram que integrantes desta milícia circulavam pelas ruas de Campo Grande em viaturas da Polícia Civil, trajando camisas pretas com o emblema da instituição.

O documento diz, ainda, que, após os relatos, diversas outras denúncias apócrifas chegaram à CGU através de correspondências e telefonemas, dando conta de que tal grupo estaria formando uma milícia e atuando em comunidades da Zona Oeste, inclusive com a conivência do delegado Marcus Neves, então titular da 35ª DP. Em outra denúncia, menciona-se que Chico Bala chefiaria a milícia que possui atuação em diversas cidades da Região dos Lagos e andaria em um carro blindado portando fuzil e escoltado pelo PM Bortolozzo, sendo que seriam os responsáveis pela execução de um sargento, ocorrido em Araruama, no ano passado.

O então corregedor geral Gustavo Adolpho Kuhl Leite finalizou seu parecer “considerando, enfim, a gravidade do episódio, o envolvimento de servidores de corporações distintas e a inegável repercussão destes
fatos na esfera administrativa disciplinar” e decidiu instaurar uma sindicância administrativa disciplinar em face do delegado, do sargento Chico Bala e do ex-PM conhecido como Popeye.

Questionado sobre as acusações contra o delegado Marcus Neves, o secretário de Estado de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, declarou ter total confiança nele e afirmou que ele não havia sido investigado e nem submetido a qualquer sindicância, contradizendo o conteúdo da sindicância da CGU. Na primeira quarta-feira do ano, dia 7 de janeiro, o desembargador aposentado Gustavo Adolpho Kuhl Leite foi substituído por Giuseppe Vitagliano.