Dois meses após gravar um vídeo onde pedia ajuda e denunciava integrantes do grupo de milicianos conhecido como Comando Chico Bala, o técnico em imobilização ortopédica Maciel Paiva de Souza, 29 anos, foi preso por equipes da Divisão de Capturas e Polícia Interestadual (DC-Polinter), acusado de pertencer à milícia rival, intitulada Liga da Justiça. A prisão foi efetuada na Favela do Barbante, em Inhoaíba, na Zona Oeste do Rio, onde ele já havia escapado de um atentado, no início do ano. O conteúdo do vídeo foi publicado com exclusividade aqui.
Além de Maciel, também foram presos o segurança André Vieira Costa de Paiva, 37, o motorista de transporte alternativo Jonatan Lopes, o Baleia, 24, e o guardião de piscina João Rafael dos Prazeres, o Rafa ou JJ, 23. Todos negam envolvimento com a milícia que disputa áreas de Campo Grande e, com exceção de Maciel, nenhum deles possuía passagens pela Polícia.
Ao ser apresentado à imprensa, o técnico em mobilização ortopédica pediu para falar e afirmou que estava sendo preso por ter sido o responsável por denunciar os delegados Marcus Neves e Eduardo Soares, respectivamente titular e adjunto da Polinter, quando estes ainda eram lotados na 35ª DP (Campo Grande).
“Eu procurei a Corregedoria da Polícia Civil e denunciei as arbitrariedades que os dois cometiam. Fui preso injustamente por eles e inocentado pela Justiça. Depois disso pedi proteção, mas nunca recebi. Ficava dormindo cada dia em uma casa diferente. Parei de trabalhar e passei a ser sustentado pela minha mulher, que trabalha em dois hospitais. Quando me prendeu, o Eduardo falou que eu merecia estar na vala e disse que tudo que eu tinha pedido estava arquivado”, afirmou Maciel.
No dia 12 de junho do ano passado, Maciel foi detido juntamente com Vanderson Navegantes Azevedo, Luciano Sabino da Silva e outros conhecidos identificados como Daniel e Ralff no interior do Condomínio Parque dos Eucaliptos. Na ocasião, eles foram levados para a 35ª DP.
‘Perguntei se estávamos presos. Eles disseram que não estávamos presos, mas que não podíamos falar com ninguém. Às 14 horas do dia seguinte o Daniel foi liberado. Após cerca de 30 horas de prisão eles tentaram nos convencer a assinar um flagrante de formação de quadrilha, mas nos recusamos. Tentei cortar meu pulso em desespero e só depois disso tivemos acesso a advogado, família e alimento”, relatou, contando que foram transferidos para a carceragem da 39ª DP (Pavuna) três dias após a prisão.
“Às 14 horas de sábado, dia 15 de junho, fomos transferidos para a Pavuna, onde ficamos 42 dias acautelados. O novo delegado da delegacia de Campo Grande me chamou e eu inclusive fiz reconhecimento de pessoas acusadas de envolvimento com a milícia através de fotos. Ele me disse que eu podia ficar tranqüilo, que as equipes da 35ª DP tinham mudado e por isso eu voltei a sair de casa. Quando me prenderam, eu estava no bar”, afirmou.
Já o delegado Eduardo Soares, adjunto da Polinter, informou que Maciel e todos os outros três presos são envolvidos com o ex-policial militar Ricardo Teixeira Cruz, o Batman, e disse que os quatro foram autuados em flagrante por receptação, formação de quadrilha e porte de arma compartilhada. O delegado também revelou que Maciel, Baleia e Rafa são acusados pela tentativa de homicídio sofrida por um despachante de van há duas semanas. Eles teriam sido reconhecidos pela vítima.
“Policiais em viaturas descaracterizadas foram até Campo Grande após receberem uma denúncia de que havia uma pessoa seqüestrada no interior da Favela do Barbante. Uma dessas viaturas foi abordada pelo grupo, que estava em um Doblô e queria saber o que eles estavam fazendo ali. Depois que foram liberados, os policiais pediram reforço”, relatou.
Em apoio, dezenas de equipes da Polinter, da Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas (DRFC), da Delegacia de Roubos e Furtos de Automóveis (DRFA) e da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), além de dois helicópteros da Polícia Civil, foram para a região.
“O helicóptero localizou o Doblô no interior da favela e os policiais se dirigiram ao endereço, onde os quatro foram presos. Há duas facções disputando o controle em Campo Grande. Uma delas é do Chico Bala e a outra é do Batman, que é a da qual eles fazem parte”, declarou.