Tentando chegar em casa, PM enfrenta alagamento com água na altura do peito e é arrastado por uma correnteza durante dez metros. No caminho, ajuda a resgatar crianças soterradas em uma escola. Com a residência interditada, está em um abrigo e trabalha como voluntário em ações para localizar outras vítimas das chuvas em Petrópolis, na Região Serrana do Rio.
Lotado no 26ºBPM (Petrópolis), o cabo Vinicius de Morais Alves, 35 anos, é um exemplo de que a missão abraçada pelos policiais militares do Estado do Rio de Janeiro vai muito além de servir e proteger. Há onze anos na corporação, ele saía de serviço no Destacamento de Policiamento Ostensivo (DPO) do Cascatinha, no último dia 15 de fevereiro, quando se deparou com uma forte chuva no caminho para casa.
Morador do bairro Alto da Serra, o cabo Morais passava pela Rua Teresa no momento em que foi surpreendido por um alagamento que impossibilitou a passagem de veículos. Ele então desceu de seu carro no momento em que percebeu que muita lama descia da encosta e resolveu prosseguir a pé.
No caminho ele encontrou uma vizinha, e a orientou a acompanhá-lo. Assim que passaram pelo alagamento, uma encosta na altura do posto de combustíveis Shell desmoronou. O PM pediu que todos os motoristas que estavam no local saíssem de seus automóveis para procurar um abrigo seguro e continuou caminhando para casa.
Ao chegar na altura da academia New Life Fitness, a água já estava na altura do peito e a correnteza muito forte.
“Minha vizinha disse que não ia conseguir continuar e eu a orientei a ficar atrás da coluna da Caixa Econômica Federal. Então ouvi um barulho muito alto e percebi que estava acontecendo outro deslizamento. Mergulhei na correnteza para tentar salvar minha vida e fui arrastado por cerca de dez metros. Em seguida comecei a nada lateralmente e consegui me agarrar na grade do supermercado Extra, alcançando o canteiro de plantas, onde a água estava na altura do joelho”, relembrou o policial.
Ele seguiu pelo canto da rua em direção à sua residência e no momento em que passava em frente à Escola Municipal Vereador José Fernandes ouviu vozes de crianças pedindo socorro. Ele percebeu que cerca de 100 alunos estavam presos no segundo andar da instituição de ensino devido a uma queda de barreira e entrou no imóvel junto com outras cinco pessoas.
Eles utilizaram uma maca emprestada pelo Pronto Socorro Leônidas Sampaio, localizado ao lado do colégio, como escada e alcançaram o telhado da escola. Após quebrar a janela, conseguiram resgatar as crianças.
O cabo Morais desceu do telhado para continuar seu caminho para casa quando voltou a ouvir gritos. Ele retornou ao colégio e no primeiro andar encontrou duas crianças dentro de uma sala de aula, embaixo dos escombros. Com auxílio de ferramentas cedidas pela loja de material de construção Bom Preço, que funciona em frente à unidade de ensino, o PM quebrou os escombros retirando a primeira criança e depois quebrou uma parede para conseguir acessar pela parte externa uma mesa que estava prendendo a perna da outra.
Com diversas lesões pelo corpo e rabdomiólise, os dois estudantes – que chegaram a sofrer descargas elétricas – foram levados para o Pronto Socorro, onde permaneceram internados.
O policial conseguiu chegar em casa, onde pegou cobertores, e retornou ao local para entregar as cobertas para as crianças socorridas. Em seguida, foi para o Morro da Oficina, que fica próximo à sua residência e foi um dos locais mais atingidos pela tragédia. Após uma semana ajudando em buscas e trabalhando de forma voluntária para resgatar famílias de escombros, o cabo Morais foi orientado por médicos a fazer repouso para recuperar sua perna. Hoje com dor no tornozelo, ele engessou o membro para imobilizá-lo, sem lembrar onde se lesionou.
Desabrigado, o PM aguarda a liberação de sua residência abrigado em um ponto de apoio e ressalta que tem recebido apoio do comando do 26ºBPM, tenente-coronel Celso Jorge Lydia Filho, e da Diretoria de Assistência Social (DAS) da corporação.