Às vésperas da ocupação das Forças de Pacificação completar um ano, mais um homicídio amedrontou os moradores do conjunto de favelas do Alemão, na Zona Norte do Rio. Em plena luz do dia, Gilberto Lanúcio Ferreira de Assis, 40 anos, foi surpreendido por traficantes integrantes da facção criminosa Comando Vermelho (CV) que efetuaram cerca de 30 disparos contra ele.
Funcionário de um escritório de advocacia no Centro do Rio, ele morreu em frente ao lava a jato do pai, na Rua Ministro Moreira de Abreu, na localidade conhecida como Cascatinha, em Olaria. A via fica a poucos metros da subida que dá acesso à Favela Vila Cruzeiro.
O crime ocorreu às 18h do último sábado, dia 22 de outubro, e o corpo de Gilberto foi enterrado no domingo no Cemitério de Irajá, no bairro de mesmo nome, também na Zona Norte do Rio. Um ônibus saiu do Complexo do Alemão levando familiares, amigos e vizinhos da vítima.
“Ele ia sair do escritório de advocacia para abrir um negócio próprio. Ia alugar um espaço para festas”, contou um amigo que, por medidas de segurança, pediu para não ter a identidade revelada.
A vítima já havia sido presa por roubo e conquistou o benefício da liberdade condicional para cumprir o restante da pena a que foi condenada.
“Falam em pacificação e ocupação do Exército, mas ninguém se sente seguro. Este não é o primeiro caso em que bandidos fortemente armados efetuam disparos e matam uma pessoa em plena luz do dia e na frente de um monte de gente. Os militares parece que sabem onde podem passar e de onde têm que ficar longe. Já tem traficante armado, principalmente na Vila Cruzeiro ”, desabafou um comerciante que pediu para não se identificar.
O relações públicas das Forças de Pacificação, major Marcus Vinícius Bouças, declarou que não tinha sido informado do incidente e que iria fazer um levantamento do ocorrido na região.
OUTROS CASOS
No dia 4 de maio, o eletricista Wallace Moreira Amorim, 31 anos, foi assassinado com 13 tiros na Favela Nova Brasília. Na ocasião, o irmão dele, Cristiano Moreira Amorim, foi baleado na perna. Duas semanas depois, a família teve que se mudar para fugir das ameças sofridas por traficantes. De acordo com a Polícia, o crime ocorreu porque o eletricista não autorizou a implantação de uma boca-de-fumo perto de sua residência.
Um mês após o crime, policiais da 22ª DP (Penha) surpreenderam Júlio Cesar Lopes Faria, o Juninho, 27 anos, apontado como um dos autores do assassinato, em um bar na própria Favela Nova Brasília. A prisão foi efetuada no dia 17 de junho. Contra ele havia dois mandados de prisão. O outro traficante acusado de participação na morte do eletricisita, conhecido como Geléia, permanece foragido.
Quatro meses depois da execução do eletricista, a estudante Franciele dos Santos Silva, 7 anos, foi atingida por uma bala perdida na perna esquerda quando caminhava na Rua 9, na Favela Vila Cruzeiro, a caminho da escola. O incidente ocorreu no dia 16 de setembro. Na ocasião, o Exército divulgou que militares das Forças de Pacificação realizavam uma ronda de rotina quando avistaram um homem em atitude suspeita. Ele teria sacado uma pistola e atirado contra a equipe. Um dos integrantes reagiu e disparou de volta.
No dia 11 de outubro, um operário da construção civil foi baleado na Favela da Grota. Ele caminhava em direção à firma onde trabalha, quando policiais da 22ª DP (Penha) que passavam pelo local foram confundidos com bandidos por soldados do Exército. Os militares atiraram nos policiais, que revidaram. No meio do fogo cruzado, o trabalhador foi atingido no ombro.