Arquivo de 23 de abril de 2009

Fotos: Vitor Silva

O despachante André Luiz Batista Menezes, 34 anos, denuncia que começou a ser perseguido ao não aceitar sair da cooperativa em que trabalhava para começar a fazer cobrança de taxas para o Comando Chico Bala

O despachante André Luiz Batista Menezes, 34 anos, denuncia que começou a ser perseguido ao não aceitar sair da cooperativa em que trabalhava para começar a fazer cobrança de taxas para o Comando Chico Bala

Sete meses após testemunhar uma tentativa de homicídio, o fiscal de transporte alternativo Marcos Roberto de Farias Mesquita, 26 anos, foi assassinado. O crime foi cometido por seis homens fortemente armados que desceram de um Doblô furgão branco e não se intimidaram com a presença de dezenas de pessoas que estavam em um bar localizado na Rua Alvorada de Minas, na localidade Jardim Sete de Abril, em Paciência, na Zona Oeste do Rio. Um dos criminosos foi reconhecido como sendo o miliciano conhecido como Bruno – apontado como um dos homens de confiança do ex-sargento da Polícia Militar Francisco César Silva de Oliveira, o Chico Bala.

O homicídio ocorreu no dia 17 de fevereiro. A vítima era testemunha do despachante André Luiz Batista Menezes, 34, que sofreu um atentado, no dia 19 de julho de 2008 – seis horas após denunciar Chico Bala e um de seus comparsas, o também ex-PM Herbert Canijo da Silva, o Escangalhado. O despachante estava na Rua Cedro Alto, na mesma localidade, quando notou a aproximação de um Pólo prata.

“Eu já havia sido avisado de que eles estavam atrás de mim porque eu me recusei a largar a cooperativa onde trabalhava como despachante para fazer cobranças para eles. Quando vi o Pólo se aproximando, ao invés de entrar no meu carro, dei a volta e me escondi do lado do banco do carona. Vi quando o Chico Bala desceu, segurando um fuzil e usando um boné, e efetuou diversos disparos. Nesta hora, continuei abaixado e corri. Entrei em uma rua e até pulei muros de casas para fugir”, relembrou André.

Oito dos tiros atingiram o encosto de cabeça do banco do motorista

Oito dos tiros atingiram o encosto de cabeça do banco do motorista

O incidente ocorreu por volta das 21h e foi presenciado pelo fiscal, que aceitou acompanhar o despachante até a Polícia para confirmar a participação de integrantes da milícia conhecida como Comando Chico Bala na ação. O fiscal também testemunharia contra Chico Bala e Escangalhado porque, dois dias antes, a dupla tinha ido procurar André Luiz no ponto das vans, na esquina das ruas 9 e Santa Eugênia. Eles estavam na Blazer branca placa LNW 5187 e no Palio branco placa KMT 5150. Os dois veículos eram utilizados pela 35ª DP (Campo Grande).

“O Escangalhado falou que a partir daquele momento, o dinheiro não seria mais de propriedade da cooperativa e que a partir da segunda-feira seguinte, dia 21, todas as linhas que atendiam ao bairro de Santa Cruz seriam de propriedade dele e do Chico Bala. Antes de irem embora, eles roubaram os R$ 740 que estavam com o Roberto”, afirmou o despachante.

Ao ser informado de que estava sendo procurado pelo grupo em viaturas oficiais da Polícia Civil, André Luiz pediu ajuda à Polícia Militar. Ele foi até o 2º Comando de Policiamento de Área (2º CPA) e prestou declarações ao Serviço de Inteligência (P-2) da unidade, às 15h25 do dia 19 de julho do ano passado. O documento foi encaminhado por ele ao Ministério Público, à Corregedoria da Polícia Civil e à Vara Criminal de Campo Grande.

Ao ser informado de que estava sendo procurado pelo grupo em viaturas oficiais da Polícia Civil, André Luiz pediu ajuda à Polícia Militar

Ao ser informado de que estava sendo procurado pelo grupo em viaturas oficiais da Polícia Civil, André Luiz pediu ajuda à Polícia Militar

“Mataram o Marcos Roberto porque ele era a minha principal testemunha. Quando tentaram me matar, procurei a delegacia de Campo Grande e não quiseram fazer o registro. Consegui registrar a queixa na delegacia de Santa Cruz, mas nunca mais fui chamado para depor. Identifiquei os bandidos que atiraram contra mim e nenhum deles foi preso. Eu vivo foragido, não tenho mais minha liberdade. Perdi emprego, perdi família. Minha mulher me largou e não posso ver os meus filhos do primeiro casamento. Minha mãe me ajuda um pouco, quando tem. Quando não tem, eu levanto as mãos pro céu e agradeço por estar vivo”, desabafou André.

Antes de ser morto, o fiscal chegou a ser preso, junto com o irmão do despachante, José Alberto da Silva Filho, 27, que trabalhava como “chamador de passageiros”. Ao contrário do irmão, que era contratado pela cooperativa, ele recebia o pagamento diretamente dos motoristas. No início de janeiro, os dois foram acusados de formação de quadrilha e porte ilegal de arma.

“A voz de prisão foi dada pelo Gaguinho, mas eles não ficaram nem um mês presos. Foram transferidos para a Polinter e depois a Justiça os soltou”, relembrou André.

O sargento do Corpo de Bombeiros Carlos Alexandre Silva Cavalcante, o Gaguinho, foi executado com diversos tiros de fuzil, no início de janeiro

O sargento do Corpo de Bombeiros Carlos Alexandre Silva Cavalcante, o Gaguinho, foi executado com diversos tiros de fuzil, no início de janeiro

O sargento do Corpo de Bombeiros Carlos Alexandre Silva Cavalcante, o Gaguinho, foi executado com diversos tiros de fuzil logo depois, no início da manhã do dia 5 de janeiro, quando se preparava para entrar em seu automóvel, que estava estacionado em um posto de combustível na Estrada do Gabinal, em Jacarepaguá, também na Zona Oeste do Rio. Já Escangalhado e Chico Bala continuaram sendo vistos acompanhando equipes dos delegados Marcus Neves e Eduardo Soares, após a transferência destes da 35ª DP para a Divisão de Capturas e Polícia Interestadual (DC-Polinter).

“Tenho a expectativa de que a Justiça resolva logo isso tudo. Que me devolvam meu direito de ir e vir. Sempre fiz questão de trabalhar honestamente para poder andar de cabeça erguida e hoje vivo fugindo, me escondendo, com medo de ser mais uma vítima de outra covardia”, lamentou, denunciando que o Comando Chico Bala assumiu todas as cooperativas de transporte alternativo da Zona Oeste do Rio e o faturamento chega a R$ 40 mil por semana.

“Só com os pedágios às vans, o valor é de mais de R$ 150 mil por mês. O Chico Bala já era dono da CooperOeste, que faz a linha Santa Cruz x Barra da Tijuca. Agora, tomou conta de tudo”, ressaltou.

A equipe do Jornal POVO do Rio entrou em contato com a assessoria de imprensa da Polícia Civil, para saber o andamento do inquérito que apura a tentativa de homicídio sofrida pelo despachante, mas foi orientada a procurar o delegado Aguinaldo Ribeiro, titular da 36ª DP (Santa Cruz). No entanto, por ser feriado, ele não estava na unidade.

Já o coordenador do Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, Leonardo Rosa, aconselhou que a vítima e todas as outras pessoas que tenham sido alvo de arbitrariedades cometidas pelos milicianos procurem o órgão, na Avenida Marechal Câmara, 314, no Centro do Rio.

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Fotos: Vitor Silva

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Um telefonema feito para um oficial da Polícia Militar pode ajudar a desvendar um homicídio ocorrido em Campo Grande, na Zona Oeste do Rio. Pouco mais de 24 horas após ser encontrada morta, a vítima havia ligado para um major, cujo nome está sendo mantido em sigilo.

Grávida de sete meses, Edilma Maria Ferreira, 26 anos, conhecida como Xuxa, foi morta com três tiros. De acordo com o perito do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) que esteve no local do crime, um dos tiros atingiu a lateral de seu pescoço e outros dois foram dados nas costas.

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“Tudo leva a crer que ela estava no banco do carona e que o criminoso era o motorista. Provavelmente o primeiro disparo ocorreu ainda dentro do veículo e a atingiu no pescoço. Depois, o assassino a empurrou e deu os outros dois tiros em suas costas”, avaliou o perito.

O corpo de Xuxa foi encontrado às margens da Avenida Brasil, no quilômetro 49, na altura da localidade conhecida como Campinho, no início da manhã desta quarta-feira, dia 22. Uma viatura do Batalhão de Policiamento em Vias Especiais (BPVE) chegou ao local por volta das 6h30. Quatro horas depois, chegaram os peritos, seguidos pelo rabecão do Corpo de Bombeiros, que removeu o corpo até o Instituto Médico Legal (IML) de Campo Grande.

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A vítima possuía três tatuagens: um golfinho na barriga, um sol na nuca e um coração na batata da perna direita, onde estava escrito “Malhafunk” – um grupo de funk. Na mão da grávida, havia um aparelho de telefone celular. Em seu álbum de fotografias, imagens da vítima com os pagodeiros Belo e Luciano Becker, do grupo Swing e Simpatia.

Nascida em 5 de janeiro de 1983, Edilma comemorou o aniversário em show no Olimpo, na Vila da Penha, em 12 de janeiro deste ano

Nascida em 5 de janeiro, Edilma comemorou o aniversário em show no Olimpo, na Vila da Penha, em 12 de janeiro

A primeira foto foi feita no dia 12 de janeiro deste ano e, a segunda, em 15 de setembro de 2008. Já na agenda telefônica, os números de integrantes de grupos de pagode e também de funk. Entre eles, os dançarinos e cantores do Malhafunk – cujo nome enfeitava uma de suas tatuagens. Também havia contatos de soldados, sargentos e tenentes da PM.

Irmão da vítima por parte de mãe, o motorista Alexandre Calderano Neves, 36, contou a policiais da 36ª DP (Santa Cruz) que a irmã era prostituta e havia parado de fazer programas assim que descobriu a gravidez.

“Ela já havia saído de casa há bastante tempo e não tínhamos muito contato. Ela me ligou no domingo para me dar os parabéns, pois era meu aniversário, mas eu não sabia quem era o pai da criança”, disse, na saída da delegacia.

O delegado Agnaldo Ribeiro, titular da 36ª DP, encaminhou o celular da vítima para o ICCE, onde será realizada perícia. A última ligação feita por ela, para o major da PM, foi às 21h50 de segunda-feira, dia 20. Uma amiga identificada como Kátia, com quem ela moraria, revelou que a grávida saiu de casa na terça-feira e não retornou. Ela foi intimada para depor. A Polícia também aguarda o comparecimento da mãe da vítima, às 9 horas da próxima terça-feira, dia 28, para tentar identificar o pai da criança que ela esperava.

A previsão era de que a criança nascesse em junho

A previsão era de que a criança nascesse em junho

Em sua página no site de relacionamentos Orkut, Edilma escreveu: “Yasmim Vitória está chegando”. Qualquer informação que auxilie nas investigações policiais pode ser repassada através do Disque-Denúncia (2253-1177).

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Uma semana após o Jornal POVO do Rio publicar, com exclusividade, a nomeação do ex-sargento da Polícia Militar Francisco César Silva de Oliveira, o Chico Bala, como subsecretário de Transportes de São Pedro da Aldeia, na Região dos Lagos, a Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva do Núcleo de Araruama instaurou inquérito civil para apurar o fato. O órgão também encaminhou recomendação ao prefeito Carlindo José dos Santos Filho solicitando a imediata exoneração do ex-PM.

Com o inquérito civil, o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro pretende apurar a possível prática de ato de improbidade administrativa, por violação ao princípio da moralidade, diante da escolha, pelo Poder Executivo Municipal, de um ex-policial punido por envolvimento com cooperativas de vans justamente para exercer cargo de chefia em uma secretaria municipal que, entre outras atribuições, possui a missão de fiscalizar e coibir o transporte irregular de passageiros.

O prefeito de São Pedro da Aldeia tem cinco dias para dar informações ao MP acerca do eventual atendimento à recomendação. O mesmo prazo foi estabelecido para que o município envie o ato de nomeação e a ficha funcional de Chico Bala. Caso não haja retorno dos requerimentos, o órgão vai prosseguir com as investigações e, se comprovada a veracidade dos fatos, poderá ser proposta ação civil pública por ato de improbidade administrativa contra os agentes públicos envolvidos.

A Promotoria de Justiça do Núcleo de Araruama solicitou também que seja agendada oitiva urgente, ainda para este mês de abril, tanto com o prefeito quanto com o secretário municipal de Serviços Públicos e de Transporte de São Pedro da Aldeia, Luís Cláudio Soares de Oliveira. No depoimento, eles deverão explicar quais os critérios adotaram para tal escolha.

O Ministério Público oficiou também a PMERJ e a Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Draco) para enviarem, respectivamente, no prazo de cinco dias, a ficha disciplinar e as cópias dos processos administrativos e do inquérito policial instaurado para apurar os eventuais crimes de Chico Bala.

O ex-sargento era lotado no 25º BPM (Cabo Frio) e foi submetido a processo administrativo disciplinar por ter participado de uma operação da 35ª DP (Campo Grande) realizada na Zona Oeste, em 2008. Na ocasião, usou colete e camiseta com a inscrição “Polícia Civil”, e empunhou fuzil da instituição, sem estar devidamente autorizado, além de ter feito papel de informante e colaborador em ações policiais sem autorização do comandante da PM, coronel Gilson Pitta.

Ele já tinha sido submetido a Conselho de Disciplina, em 2002, e possuía anotações que somam 110 dias de prisão e cinco punições de natureza grave, sendo duas por envolvimento com cooperativas de transporte alternativo. Sua expulsão foi publicada no Boletim Interno da PM de número 46, do dia 16 de março, e seu relato possui quatro páginas.