Arquivo de 30 de abril de 2010

Reunidos no alto do Morro do Juramento, em Vicente de Carvalho, na Zona Norte do Rio, na noite da última quarta-feira, dia 28 de abril, traficantes da facção criminosa Comando Vermelho (CV) planejaram os últimos detalhes de uma onda de ataques a policiais, falsas blitzens, arrastões, invasões a comunidades controladas por facções rivais e até mesmo roubo a bancos.

Do Complexo do Alemão – considerado o quartel general do CV – vieram os soldados do tráfico e as últimas coordenadas para as ações, que serão praticadas após o envio de cinco carros com as mesmas características das viaturas da Polícia Civil, entre eles quatro Renault Sandero e um veículo semelhante ao utilizado pela Divisão de Capturas e Polícia Interestadual (DC-Polinter). Para isso, portanto, faltariam apenas alguns detalhes, como a instalação do sistema de iluminação no teto dos Sanderos.

Policiais do Setor de Inteligência da 29ª DP (Madureira) apuram a informação de que os automóveis estão sendo pintados em uma espécie de estufa no alto do Morro da Fazendinha, no Complexo do Alemão, e de lá seguirão para o Morro do Juramento, onde ficarão estacionados próximos a um depósito de gás, na localidade Igrejinha, que seria de propriedade do traficante Marcelo da Silva Soares, o Macarrão ou Cazuza, 38 anos. Cerca de 10 camisas na cor cinza, também semelhantes às da instituição, já foram entregues ao criminoso por uma mulher que dirigia um Crossfox cinza.

Marcelo da Silva Soares, o Macarrão ou Cazuza, 38 anos

De acordo com as investigações, a missão para articular os ataques ficou sob responsabilidade de Macarrão e seu braço-direito conhecido como Zero, que assumiram as bocas-de-fumo do Morro do Juramento após a invasão à comunidade em agosto do ano passado. Para as ações, eles contariam com apoio de um dos principais homens de guerra do CV, Emerson Ventapane da Silva, o Mão, 37, que à frente da quadrilha que carrega o próprio nome, o “Bonde do Mão”, vem aterrorizando pelo menos 20 bairros da Zona Norte, promovendo arrastões e executando policiais militares. Conforme foi divulgado com exclusividade pelo Jornal Povo do Rio, Mão e seus comparas foram presos e liberados por policiais do 9º BPM (Rocha Miranda) mediante o pagamento de R$ 200 mil e quatro fuzis, no último dia 17 de abril. Cinco dias depois, ele executou um PM, em Irajá.

Emerson Ventapane da Silva, o Mão, 37 anos

A primeira comunidade escolhida para ser alvo das invasões foi o Morro da Serrinha, em Madureira, cujo tráfico de drogas é controlado pela facção criminosa Terceiro Comando Puro (TCP). No início da manhã de ontem, traficantes do CV saíram do Morro do Cajueiro, também em Madureira, e atravessaram a mata para chegar até a comunidade. Houve intenso tiroteio e dois criminosos acabaram presos por policiais do 9º BPM.
A disputa pelo controle do tráfico de drogas na região começou no final de agosto do ano passado. No dia 2 de setembro, cerca de 80 policiais militares de quatro batalhões realizaram uma operação nas duas comunidades. O saldo da ação – que contou com o apoio de dois helicópteros e três veículos blindados e durou cerca de três horas – foi de três acusados de envolvimento com o tráfico mortos e um preso, além de drogas e armas apreendidas.

Após denúncia aqui no Pauta do Dia e publicada pelo Jornal Povo do Rio sobre o abandono imposto pelo Estado ao inspetor Eduardo Pinto de Medeiros Baptista, 44 anos, que perdeu as gratificações profissionais após ser baleado em uma tentativa de assalto e ficar paraplégico, o deputado estadual Flávio Bolsonaro (PP) visitou o policial civil, na manhã desta quinta-feira, dia 29 de abril.

Membro efetivo da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), o parlamentar informou que vai intermediar junto ao Estado uma mudança nas leis que conferem gratificações à profissionais de segurança pública.

“Coloco meu gabinete à inteira disposição desse policial, pois é para esses cidadãos que defendo direitos humanos, não para bandidos como os que o deixaram na condição de paraplégico. Felizmente, ele não passa por necessidades. Minha maior pretensão era conseguir uma vaga para que ele fizesse tratamento no Sarah Kubitschek, mas ele já conseguiu se habilitar a uma vaga e começará o tratamento no dia 16 de maio”, explicou.

Em novembro de 2006, Eduardo saía da 22ª DP (Penha), onde era lotado, para almoçar quando foi interceptado por três bandidos que queriam roubar seu carro. O policial foi baleado, ficou tetraplégico e só no ano seguinte conseguiu se aposentar por invalidez. No entanto, perdeu gratificações a que tinha direito e hoje ganha pouco menos de R$ 4 mil. O valor é insuficiente, pois seus gastos semanais, devido à sua tetraplegia, são sempre superiores.

Relembre o caso: Estado abandona policial à própria sorte