Fotos: Bruno Gonzalez e Vitor Silva

A proibição da entrada de pessoas que não fossem parentes no enterro e o velório a portas fechadas do corpo do traficante Rogério Rios Mosqueira, o Roupinol, 36 anos, levantou uma suspeita: será que o criminoso seria mais um integrante da facção Amigos dos Amigos (ADA) a se fingir de morto para conseguir identidade diferente e recomeçar vida nova desfrutando do dinheiro ganho com a venda de drogas?

Em janeiro deste ano, policiais da Divisão de Roubos e Furtos de Automóveis (DRFA) descobriram que Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nêm, 33, líder do tráfico na Favela da Rocinha, em São Conrado, na Zona Sul do Rio, pagou ao médico Dalton Jorge por um atestado de óbito. Por assinar o documento, afirmando que o traficante havia morrido por insuficiência renal e diabetes – diagnóstico que garantiria que o corpo não passasse pelo Instituto Médico Legal (IML) para necropsia -, Dalton acabou sendo preso por falsidade ideológica e associação ao tráfico.

Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nêm, 33 anos

Também no atestado, ele havia registrado que o criminoso morreu em um imóvel no número 170 da Rua Major Rubens Vaz, na Gávea, na Zona Sul. No endereço fica localizada a 15ª DP (Gávea), delegacia responsável pelas investigações relativas ao tráfico de drogas na Favela da Rocinha. O enterro chegou a ser marcado: às 16h15 do dia 29 de janeiro no Cemitério do Catumbi, no bairro de mesmo nome – próximo ao Complexo do São Carlos, onde Roupinol teria morrido – e não haveria velório.

Quem assinou o pedido de sepultamento à Funerária Rio Pax de Copacabana foi Antônio Carlos Santana Rosa, cunhado de Nêm. No documento, ele declarava que o traficante havia morrido em casa, às 9h40m – menos de sete horas após o horário previsto para o enterro.

Preparado para uma nova vida, Nêm chegou a encomendar uma nova identidade, sem muitas alterações: mudou a data de nascimento de 25 para 24 de janeiro de 1976 e o nome de Antônio Francisco Bonfim Lopes para Antônio Francisco. O número pertence ao documento de uma outra pessoa – João Paulo Romildo dos Santos -, que não possui antecedentes criminais.

O delegado Márcio Mendonça, titular da DRFA, iniciou investigação para apurar a participação de funerárias, médicos e cemitérios na falsificação de atestados de óbito e realização de falsos enterros. Segundo o delegado, em casos como o de Nêm, cujo sepultamento seria feito sem velório, nenhum funcionário do cemitério observa se há cadáver no caixão.

Paulo César Silva dos Santos, o Linho, 38 anos

Parceiro de Roupinol, Nêm queria seguir os passos de outro líder da ADA: Paulo César Silva dos Santos, o Linho. Em 2003, aos 31 anos, ele teria sido morto em São Paulo. No entanto, o Disque-Denúncia continuou recebendo informações sobre possíveis esconderijos do traficante. De 2003 a 2008, foram 673 denúncias. O corpo nunca foi encontrado e até hoje ninguém conseguiu comprovar a morte, que teria sido anunciada pelo irmão dele, Wagner da Silva Santos.

Preso em janeiro de 2004, aos 29 anos, por agentes da extinta Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) e da 40ª DP (Rocha Miranda), ele era acusado de participação na lavagem de dinheiro para a quadrilha do irmão e teria afirmado aos policiais que Linho havia sido morto em janeiro do ano anterior. De acordo com a Polícia, ele contou que o irmão desapareceu no dia 23 de janeiro de 2003.

Na ocasião, ele teria saído de casa, em um condomínio luxuoso no bairro Pinheiros, na Zona Sul de São Paulo, por volta do meio-dia, e seu último contato teria sido por telefone com a mulher, Michele Lucena Fernandes, 24, duas horas depois. Ainda de acordo com Wagner, no mesmo dia um dos comparsas do irmão, o traficante Ubiratan da Silva, o Bira, teria ligado para Michele dizendo que Linho havia sido seqüestrado por policiais que pediam R$ 2 milhões para o resgate. No dia 13 de fevereiro do mesmo ano, um corpo que seria de Bira foi encontrado sem a cabeça e as pernas.

Investigações policiais comprovaram que Linho morava em São Paulo desde 1997, tendo passado por 18 municípios. Em 2003, Linho – que usava documentos com pelo menos sete nomes falsos – teve residências em seis cidades. Ele também possuía, em nomes de terceiros, um posto de combustível e uma farmácia na capital paulista. Ainda segundo a Polícia, o irmão era o responsável por um lava a jato em Santo André. Ele vendeu o estabelecimento – sete meses após a suposta morte do irmão – e voltou para o Rio de Janeiro, onde acabou sendo preso em uma casa em Marechal Hermes, na Zona Norte, por força de um mandado de prisão expedido pela 2ª Vara Criminal da Ilha do Governador.

Enquanto a tentativa de Nêm foi frustrada, o sumiço de Linho é considerado uma fuga bem-sucedida entre integrantes da facção Amigos dos Amigos, hoje representada pelo traficante Edmilson Ferreira dos Santos, o Sassá, 39. Também conhecido como Samuca ou Coroa, ele foi preso em novembro de 2005 por policiais da Delegacia de Repressão a Roubos e Furtos de Cargas (DRFC) que o encontraram em um buraco aberto no chão do depósito de um supermercado na Favela Salsa e Merengue, no Complexo da Maré, em Bonsucesso, na Zona Norte.

Ao perceber a chegada dos agentes, o criminoso gritou “perdi, perdi”. Depois, ofereceu R$ 1 milhão em troca da liberdade. No momento da prisão ele foi flagrado com duas pistolas, uma granada, cinco rojões de fabricação argentina e um lança rojão, além de quatro bombas caseiras e centenas de munições de diversos calibres. Ao ser questionado sobre a morte de Linho, respondeu: “ouvi dizer” e se limitou a falar que nunca mais havia mantido contato com ele.

Rogério Rios Mosqueira, o Roupinol, 36 anos

A morte de Roupinol foi divulgada na manhã da terça-feira, dia 23 de março, em ação da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) da Polícia Civil. Mesmo tendo sido atingido por um tiro de fuzil no rosto, o corpo do traficante foi liberado do Instituto Médico Legal (IML) no mesmo dia e um velório em uma quadra no alto do Morro da Mineira foi anunciado através de cartazes espalhados pela comunidade.

Apesar do convite, ninguém conseguiu ver o corpo no caixão e o enterro, realizado no Cemitério Memorial da Igualdade, no bairro Santa Virgem, em Macaé, foi acompanhado somente por quem comprovou parentesco com o criminoso. Nenhum incidente – como ordens para fechamento do comércio ou ações de represália à morte do traficante – foi registrado nas proximidades do Complexo de São Carlos, composto pelos morros São Carlos, Mineira, Zinco, Querosene e Coroa – que corta os bairros Estácio, Rio Comprido e Catumbi, na Zona Central do Rio.

Ausência de luto forçado levanta suspeitas

A falta de luto em homenagem a Roupinol não é comum nos casos de morte de traficantes que ocupam cargos de liderança em morros e favelas do Rio de Janeiro. Um exemplo ocorreu no dia 28 de janeiro do ano passado, quando a morte do traficante Leandro Monteiro Reis, o Pitbull, levou tensão aos arredores do Complexo da Mangueira, em São Cristóvão, na Zona Norte do Rio.

Pertencente à família que domina o tráfico de drogas na favela desde a década de 80, ele morreu sete horas após ter sido baleado em confronto com policiais civis. Sobrinho de Francisco Paulo Testas Monteiro, o Tuchinha, 43, e primo de Alexander Mendes da Silva, o Polegar, ele trocou tiros com equipes da Delegacia de Combate às Drogas (DCOD), da Core e da Delegacia Especial de Apoio ao Turismo (Deat), na localidade conhecida como Buraco Quente, por volta das 9 horas.

Atingido na barriga, ele ainda conseguiu descer por uma ribanceira e correu em direção à localidade conhecida como Elvis, onde teria se escondido na casa de moradores. Policiais revistaram diversos imóveis, mas não conseguiram encontrá-lo.

No início da tarde, equipes da 17ª DP (São Cristóvão), DRFC e DRFA também foram para a favela e policiais do 4º BPM (São Cristóvão) e do Batalhão de Polícia de Choque (BPChoque) ocuparam os acessos ao complexo. Às 16h30, o traficante deu entrada no Hospital Municipal Souza Aguiar, já sem vida.

Mesmo antes da confirmação da morte do traficante, o clima ficou tenso no entorno do Complexo da Mangueira – composto pelos morros Telégrafos, Chalé, Faria, Santo Antônio, Red Indian, Olaria, Pedreira, Pindura Saia, Buraco Quente, Tengo-Tengo, Curva da Cobra, Joaquina, Candelária e Pedra. As primeiras equipes de policiais chegaram ao local pouco depois das 8 horas. Houve intenso confronto e duas pessoas ficaram feridas: um gari comunitário, baleado na perna, e um policial civil atingido por um tiro de raspão na barriga.

Cerca de uma hora depois, houve novo tiroteio. Desta vez, a troca de tiros ocorreu na Travessa Mangará, onde dois homens morreram e grande quantidade de drogas e armas foi apreendida. Foi em um imóvel na mesma via que os policiais apreenderam uma metralhadora ponto 30, dois fuzis e duas pistolas, além de 200 quilos de maconha.

Aproximadamente três horas após o início da ação, criminosos atearam fogo ao ônibus que fazia a linha 474 (Jardim de Alah-Jacarezinho) e trafegava pela Rua Ana Néri, no trecho entre as ruas Fausto Barreto e Abdon Milanez, em Benfica. Os passageiros contaram que seis homens armados e em três motos pararam o trânsito e expulsaram todos, avisando que iam tacar fogo no ônibus. Logo depois, jogaram vários coquetéis molotov no interior do veículo, que explodiu, atingindo a rede elétrica da rua. O óleo diesel do ônibus começou a vazar dando início a um rastro de chamas, que atingiu um outro carro da linha 312, que passava pela rua. Os passageiros e o motorista desse segundo coletivo conseguiram conter as chamas.

Por volta do meio-dia, o terceiro ônibus foi incendiado a poucos metros do primeiro, no Largo do Pedregulho. Duas horas depois, bandidos atearam fogo a um coletivo que fazia a linha 239 (Castelo-Água Santa) na Rua Presidente Castelo Branco, antiga Radial Oeste, em frente à Favela do Metrô.

O enterro aconteceu 24 horas após o previsto, devido a um contratempo no IML para liberação do corpo. Na época, o advogado do traficante, Ésio Lopes, afirmou que o atraso ocorreu porque não havia ficha papiloscópica de seu cliente no Instituto Félix Pacheco (IFP).

“Eles teriam o direito de permanecer com o corpo por 72 horas, mas o diretor do IML entendeu que isso não era necessário, tendo em vista que a autópsia já havia sido feita e meu cliente foi reconhecido pela família”, explicou, na ocasião.

Mesmo tendo o corpo – intacto, já que foi encontrada apenas uma perfuração na altura do peito – reconhecido por familiares acompanhados por toda documentação, Pitbull, que era integrante da facção criminosa Comando Vermelho (CV), não conseguiu ser enterrado com tanta rapidez como o rival da ADA.

comentários
  1. kbção disse:

    se não morreu vai acabar morrendo mais cedo ou mais tarde!
    pois é um unico caminho de quem leva a vida as margens da lei!

  2. EL Loco disse:

    Axo q ele realmente está morto sim
    pois os jornalistas conseguirão fotografá o corpo
    caido então axo dificil ele está vivo isso são expeculações !

  3. Erika disse:

    Ótima reportagem! Só faltou mencionar o CAGADO, que também se fingiu de morto…

  4. André disse:

    Blog muito interessante! Conheci a poucos dias! E estou sempre visitando! Ótimas fotos e textos bem interessantes! Parabéns pelo Blog!
    Forte abraço a todos que visitam e também,claro,pros criadores do blog!

  5. ZZZZZZZZZZ disse:

    – O DONO DO COMPLEXO SAO CARLOS É O COELHO(SOBRINHO DO GANGAN)
    – O FATO DE NAO TER FEXADO COMERCIO É PELO QUE CITEI ACIMA, O DONO NAO MORREU. ROUPINOL É DE MACAE FEXOU LA O COMERCIO ONDE ELE MANDAVA. NO SAO CARLOS ELE ERA MATUTO SOMENTE E COM ISSO “UM FRENTE” NO COMPLEXO, COELHO QUE O BOTOU LA POR CAUSA DOS LUCROS ALTOS…

    • Quinho disse:

      Papo reto, rolou até um papo q foi o Coelho quem tinha tramado contra o Roupinol (Lindão). Ninguém até hoje conseguiu explicar a morte dele. Já com relação ao Linho, é um verdadeiro mistério, por muito tempo acreditei q ele realmente estivesse morto, mas de um tempo pra cá comecei a ter algumas dúvidas refente a isso. Obs. não posso informar detalhadamente o motivo das minhas dúvidas.

  6. KKKKKKKKKK disse:

    O NOSSO PÓ É BÃO PORQE QEM TRAZ É O LINDÃO

  7. carla disse:

    preciso saber como faço pra conseguir o atestado de obto do meu pai faleceeu dia 26 de julho de 2003 desde ja fc grata
    o nome dele é raimundo Audizio

  8. Juninh' disse:

    AEW LINDAO SAUDADES DE TI .. BONDE REVOLTADO MINEIRA E SAO CAROS ..

  9. w do complexo.a.b da brasilia disse:

    lindão éo caralhoww…é o bonde do complexo porraaaaa!!!!!! tenta pra ver!!

  10. trash disse:

    MINEIRA E O QG TA LIGADO. COMPLEXO DO SAO CARLOS RELIQUEA , SEMPRE SERA ADA SALDADES DO LINDAO , DO GANGAN E ARITANA SALVE MENOR DO GROTAO , AI ESSE E DE MINAS GERAIS .AJUDOU TOMAR O ZINCO , QUEROSENE COROA E A MINEIRA.CHORA CU VERMELHO E A GENTE. ADA DO LINHO

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