Arquivo de 15 de setembro de 2010

Clássico entre Vasco e Flamengo na cadeia

Publicado: 15 de setembro de 2010 em Uncategorized


“A guerra só acaba quando o último de nós cair”. A frase é usada como lema por integrantes da torcida organizada Grêmio Recreativo Cultural Torcida Jovem do Flamengo (TJF) – também conhecida como Jovem Fla. Já uma das páginas da Força Jovem do Vasco (FJV), no site de relacionamentos Orkut, traz a mensagem: “Quando o ideal for maior do que a vida, vale a pena dar a vida pelo ideal”.

Nesta quarta-feira, dia 15 de setembro, nenhuma das duas torcidas teve motivos para comemorar. Em ação que mobilizou 160 policiais para o cumprimento de 19 mandados de prisão e 25 de busca e apreensão expedidos pela 4ª Vara Criminal de São Gonçalo, 12 torcedores foram presos. Entre eles, os líderes da 7ª Família da Força Jovem do Vasco e do 8º Pelotão da Torcida Jovem do Flamengo, respectivamente André Silva Nogueira, o NG, 26 anos, e Jorge Roberto Dalles, o Gordo Sujo. Os dois grupos reúnem torcedores vascaínos e flamenguistas de Niterói e São Gonçalo.

“A torcida organizada é um pano de fundo. Tudo que eles fazem é utilizar o clube ou as cores do clube para promover vandalismo”, declarou o delegado Luiz Antônio Ferreira, titular da 73ª DP (Neves).

Entre os presos também está o soldado da Polícia Militar Luís Carlos Barbosa de Lima Júnior, o Barbosa ou Mult-Lock, lotado no Batalhão de Polícia de Choque (BPChoque), e Alan Rosa da Silva, filho da secretária de Educação de Itaboraí, Rosana da Silva Costa.

“Trata-se de bandidos travestidos de torcedores. A Polícia vai agir com força em decorrência dos eventos que estão por vir na cidade”, disse o chefe de Polícia Civil, Allan Turnowski, que aproveitou para anunciar a criação de uma Delegacia de Ordem Pública, que ficará responsável pela apuração de crimes que envolvam torcidas organizadas.

“O público que vai aos estádios precisa ter segurança. Essa delegacia vai ajudar a manter a ordem nos eventos esportivos que o Rio vai sediar”, ressaltou.

Durante a operação – batizada como Hooligans, em alusão aos torcedores ingleses que promoviam atos de vandalismo e violência – os policiais da 73ª DP, que contaram com apoio de equipes das delegacias do Mutuá (72ª DP) e Alcântara (74ª DP), além de diversas especializadas, também apreenderam camisas,bandeiras e faixas utilizadas pelas torcidas, um bastão de madeira e ingressos.

“O Estatuto do Torcedor, a CBF e os clubes fornecem ingressos para as torcidas organizadas, e eles estão promovendo festas onde vendem esse benefício para outros torcedores”, ressaltou Luiz Antônio Ferreira, revelando que também foram apreendidas oito máquinas caça-níqueis que estavam no Bar das Torcidas.

Entre os crimes praticados pelos presos, há formação de quadrilha, homicídio tentado ou consumado, lesão corporal, ameaça, dano qualificado, rixa e porte e posse ilegal de arma.

“A operação começa aqui. Já temos outras 40 pessoas identificadas, de todas as torcidas organizadas dos quatro grandes clubes do Rio. Temos um inquérito da delegacia de São Cristóvão que apura a morte de um vascaíno e investiga o envolvimento de integrantes da Young Flu e da torcida do Botafogo”, assegurou o titular da 73ª DP.

“Essa será uma ação sistemática muito dura. Não vai parar nessas duas torcidas organizadas. Vamos ampliar para outras e haverá a segunda etapa”, enfatizou o chefe de Polícia Civil.

As investigações tiveram início após a morte de Anderson Ferreira Ribeiro, o Mineiro, 19, no último dia 12 de março. Integrante da 7ª Família da FJV, ele foi baleado durante briga com torcedores do 8º Pelotão da TJF. O confronto começou na Rua Oliveira Botelho, em Neves – a poucos metros da delegacia -, onde houve tiroteio e explosão de bombas caseiras.

Na ocasião, ocupantes de dois veículos – um Gol e um Honda Civic – passaram atirando contra os cruzmaltinos. Além de Mineiro, Alexander Sant’anna Fortunato, 32, e Gilberto Andrade Santos Filho, 21, também foram atingidos. Morador do Boaçu, Mineiro foi socorrido e levado para o Pronto Socorro de São Gonçalo (PSSG), no Zé Garoto. Flamenguistas feridos no mesmo incidente acabaram procurando atendimento também no PSSG, onde houve nova briga.

Também integrantes da torcida vascaína, Guilherme Barreto de Pinho, 26, Kleyson Wallace dos Santos Barbosa, 21, Renato Teixeira, 18, João Paulo Leonardo da Costa, 25, Wander Jorge Braga Vicente, 22, e Fabrício Porto Sales, 28, acabaram presos. Estes dois últimos receberam nova voz de prisão na operação de ontem. O primeiro está no Presídio Evaristo de Moraes – mais conhecido como Galpão da Quinta -, em São Cristóvão, na Zona Norte do Rio, e o segundo na carceragem da Divisão de Capturas e Polícia Interestadual (DC-Polinter) de Neves, em São Gonçalo.

A guerra entre as duas torcidas havia sido anunciada no domingo anterior, dia 8, depois que um grupo de vascaínos jogou bombas caseiras em um churrasco que reunia flamenguistas, no Gradim. A revanche foi marcada para uma quinta-feira, quando os rubro-negros se reúnem no Gradim e os vascaínos no Barreto, na Zona Norte de Niterói. O site de relacionamentos Orkut foi a ferramenta de comunicação entre os vândalos. Os incidentes ocorreram na véspera de um clássico entre Flamengo e Vasco realizado no dia 14 de março, no Maracanã.

Em julho, na semana de outro confronto entre as duas equipes, o líder da 7ª Família da FJV, André Silva Nogueira foi vítima de uma emboscada. Morador de Vista Alegre, ele se preparava para deixar a namorada, Roberta Belarmino Alfradique da Silva, em casa, no Camarão, no dia 26. O veículo em que estava com a namorada, um Gol branco, foi atingido por oito tiros, na Travessa Juramil.

Nomes de todos os presos na ação: André Silva Nogueira, o NG, 26, Kleyson Wallace dos Santos Barbosa, 21, Guilherme Barreto de Pinho, 26, João Paulo Leonardo da Costa, Wander Jorge Braga Vicente, Fabrício Porto Sales, Hedimar José Simões Soares, Marcello Rennan de Oliveira, o Ryu, Luís Carlos Barbosa de Lima Júnior, o Barbosa ou Mult-Lock, Jorge Roberto Dalles, o Gordo Sujo, e Leonardo César Gonçalves do Nascimento, o Fininho, Alan Rosa da Silva.

Até a tarde, continuavam foragidos: Renato Teixeira, 18, Alexander Sant’anna Fortunato, 32, Gilberto Andrade Santos Filho, 21, Rodrigo de Oliveira Lessa da Costa, André Vinícius Soares Pires, Leandro Viegas Cipriano e Diego Arantes Lima.

7ª Família – Força Jovem do Vasco

André Silva Nogueira, o NG, 26 anos

Kleyson Wallace dos Santos Barbosa, 21 anos

Guilherme Barreto de Pinho, 26 anos

João Paulo Leonardo da Costa

Wander Jorge Braga Vicente

Fabrício Porto Sales

Hedimar José Simões Soares

Marcello Rennan de Oliveira, o Ryu

Renato Teixeira, 18 anos

Alexander Sant’anna Fortunato, 32 anos

Gilberto Andrade Santos Filho, 21 anos

Rodrigo de Oliveira Lessa da Costa

André Vinícius Soares Pires

8º Pelotão – Torcida Jovem do Flamengo

Jorge Roberto Dalles, o Gordo Sujo

Leandro Viegas Cipriano

Leonardo Cesar Gonçalves do Nascimento

Luan Rosa da Silva

Diego Arantes Lima

Pouco mais de quatro meses após sair da cadeia em liberdade condicional, Daniel da Conceição Simão, o Dodô, 31 anos, foi assassinado a tiros, na Rua Roberto Leal, em um dos acessos ao Morro da Chumbada, na noite desta terça-feira, dia 14 de setembro. Testemunhas contaram a policiais do 7º BPM (São Gonçalo) que estiveram no local que Dodó foi cercado por um grupo de homens armados quando chegava na favela. Os disparos atingiram a cabeça e as costas do traficante, que não teve tempo de reagir. Um outro homem, identificado apenas como GL, que estaria ao lado de Dodó, foi baleado no peito e levado para o Pronto Socorro de São Gonçalo (PSSG), no Zé Garoto.

O Morro da Chumbada – que faz divisa com o Morro Menino de Deus – possui acessos pelos bairros Centro, Rocha, Galo Branco, Estrela do Norte e Mutondo, na região central de São Gonçalo e é controlado por traficantes da facção criminosa Amigos dos Amigos (ADA) desde 2005. Segundo levantamentos da Polícia, a guerra na região teve início quando o traficante Reginaldo Alex da Conceição Simão, o Reginaldo Bocão, 35, foi morto por antigos aliados, dentro da cadeia.

Ele era um dos homens de confiança dos irmãos Luiz Paulo Gomes Jardim, o Luiz Queimado, 53, e Paulo César Gomes Jardim, o Paulinho Madureira, 51. Ainda segundo a polícia, revoltado com a traição, o irmão de Reginaldo Bocão – conhecido como Nei – se aliou à ADA e tomou o lugar dele, na Chumbada. Meses depois, ele foi morto em confronto com a PM. Quem assumiu o compromisso de vingança foi o outro irmão – Dodô. Ele estava cumprindo pena na Penitenciária Jonas Lopes de Carvalho – antiga Bangu 4 – no Complexo de Gericinó, em Bangu, na Zona Oeste do Rio, e conquistou o benefício de cumprir o restante da pena em liberdade condicional.