Seis meses após a ação que resultou na morte do traficante Marcelo da Silva Leandro, o Marcelinho Niterói, 34 anos, o helicóptero do Serviço Aeropolicial da Polícia Civil (Saer) retirou de circulação um dos criminosos que estava na lista dos mais procurados atualmente pela Polícia do Estado do Rio: Márcio José Sabino Pereira, o Matemático ou Batgol, 36.
Parceiro do traficante Nei da Conceição Cruz, o Facão, 41 – preso desde outubro de 2009 – e um dos líderes da facção criminosa Terceiro Comando Puro (TCP), Matemático estava no interior da Favela Vila Aliança, em Senador Camará, na Zona Oeste do Rio, quando foi surpreendido por vôos rasantes da aeronave blindada da Polícia Civil, na madrugada deste sábado, dia 12 de maio.
Acompanhado por comparsas que integram a quadrilha responsável pela venda de drogas no Complexo da Coréia – composto pelas favelas Coréia, Vila Aliança, Rebu, Taquaral e Jabour, que cortam os bairros Senador Camará, Realengo e Bangu -, eles chegaram a trocar tiros com os policiais, que conseguiram atingir Matemático, que ainda foi socorrido pelos cúmplices.
A tentativa de sair da favela em busca de atendimento médico foi frustrada ao descobrir que veículos blindados e equipes do Batalhão de Polícia de Choque (BPChoque), do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), do 14º BPM (Bangu) e da Polícia Federal davam refoço à ação aérea por terra se posicionando nos principais acessos ao conjunto de favelas.
Já no início da manhã o corpo de Matemático foi encontrado no interior do Gol preto placa LQX 8687 na Estrada do Engenho, na Favela Vila Aliança, em Senador Camará. Foi neste mesmo endereço que dois policiais militares foram assassinados, em maio do ano passado. Os soldados Lyra e Xavier, lotados respectivamente no 21º BPM (São João de Meriti) e no 1º BPM (Estácio), estavam no interior do Golf preto placa ABO 9777, que era blindado, mas não resistiram aos diversos disparos de armas de grosso calibre.
Investigado em 26 inquéritos e com 15 mandados de prisão contra si por tráfico, associação para o tráfico e formação de quadrilha, Matemático era um dos criminosos pelos quais o Disque-Denúncia pagava R$ 10 mil por informações que levassem à sua prisão.
As incursões policiais na região tornaram-se frequentes nas últimas semanas. No primeiro domingo de abril, dia 1º, a namorada do traficante, identificada como Natália Rodrigues Marques, 19, chegou a ser baleada na perna. Ela estava acompanhada por Matemática e seus seguranças quando agentes da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) da Polícia Civil desceram de rapel do helicóptero da instituição e trocaram tiros com os bandidos.
Apoiado pela comunidade, Matemático controlava sozinho o Complexo da Coréia desde a prisão de Facão – efetuada no dia 9 de outubro de 2009, no Guarujá, no litoral de São Paulo, por agentes da Superintendência de Inteligência do Sistema Penitenciário (Sispen), subordinada à Secretaria de Estado de Administração Penitenciária.
Monitorado durante um mês – através de escutas telefônicas autorizadas pela promotora Valéria Videira Costa, titular da 21ª Promotoria de Investigação Penal (PIP) e chefe do Núcleo de Monitoramento do Sistema Penitenciário no Ministério Público -, Facão estava evadido do Sistema Penal desde o 13 de abril daquele ano. No dia 25 de outubro do mesmo ano Facão foi transferido para a Penitenciária Federal de Segurança Máxima de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul.
Seis meses antes, o traficante Márcio da Silva Lima, o Tola, 37, havia sido preso por equipes da 38ª DP (Brás de Pina) em uma fazenda de café na cidade de Durandé, no interior de Minas Gerais. A prisão foi efetuada no dia 24 de abril de 2009, meses após Tola ter perdido dois de seus homens de confiança: Leonardo Fragoso da Silva, o Léo Vascão, 26, morto em fevereiro, e Juarez Mendes da Silva, o Aranha, morto em março. Os dois trocaram tiros com policiais do 14º BPM.
Depois das mortes de seus comparsas, ele passou a dividir o Complexo da Coréia com Luiz Cláudio Cândido, o Claudinho Nonô. Rejeitado pelos moradores, Tola acabou perdendo poder dez dias antes de sua prisão, quando Matemático e Facão ganharam o benefício de trabalho extra-muros e não voltaram ao Instituto Penal Cândido Mendes, no Centro do Rio. Eles orderam o afastamento de Tola que, com medo de morrer, acabou fugindo.
Em fevereiro deste ano, Tola foi absolvido pela juíza Alessandra de Araújo Bilac Moreira Pinto, da 40ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio, no processo em que era acusado de associação para o tráfico, porte ilegal de arma e comércio ilegal de arma. Na decisão, a magistrada determinou a expedição de alvará de soltura e seu encaminhamento à Justiça Federal do Paraná, já que o traficante atualmente está preso na Penitenciária Federal de Catanduvas.
A facção
O Terceiro Comando Puro (TCP) surgiu há dez anos, quando houve um racha entre as facções Terceiro Comando (TC) e Amigos dos Amigos (ADA). A briga ocorreu após a rebelião ocorrida no dia 11 de setembro de 2002 na Penitenciária Laércio da Costa Pellegrino – mais conhecida como Bangu 1 – no Complexo de Gericinó, em Bangu, na Zona Oeste do Rio.
Na ocasião – primeiro aniversário dos atentados terroristas nos Estados Unidos -, o traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, então com 34 anos, liderou a ação que durou 23 horas e provocou a morte dos maiores líderes do TC: Ernaldo Pinto de Medeiros, o Uê, então com 33 anos, e seus cunhados, Wanderley Soares, o Orelha – casado com a irmã de Uê, Evanilda Pinto Medeiros; e Carlos Roberto Cabral da Silva, o Robertinho do Adeus – casado com a outra irmã, Enivalda Pinto de Medeiros; além de Elpídio Rodrigues Sabino, o Robô.
Integrante da ADA, Celso Luís Rodrigues, o Celsinho da Vila Vintém, então com 41 anos, se aliou a Beira-Mar para conseguir sair vivo. Em troca, facilitou a entrada dos rivais na cela onde estava Uê, que era seu amigo pessoal. Após a ação, TC e ADA desfizeram a união e surgiu o Terceiro Comando Puro – sob comando de Matemático e Facão.
RELEMBRE AQUI:
Em ação de helicóptero do Saer da Polícia Civil, Marcelinho Niterói é morto na Maré
ARQUIVO COMPLEXO DA CORÉIA:
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