Fotos: Pedro Pantoja
O Tocilizumab, uma substância aprovada somente no Japão para o tratamento da Síndrome de Castleman, uma doença rara caracterizada pelo surgimento de nódulos linfáticos, vem se tornando a mais nova aposta da medicina para o tratamento e controle da artrite reumatóide. Enquanto portadores da doença aguardam a chegada do medicamento, recém-chegado ao Brasil, ao Sistema Único de Saúde (SUS), traficantes ligados à facção criminosa Terceiro Comando Puro (TCP) tinham ao alcance centenas de frascos – avaliados em R$ 1 mil cada.
A descoberta foi feita na manhã desta quinta-feira, dia 15 de abril, por agentes do Serviço de Inteligência (P-2) do 22º BPM (Benfica). Os PMs receberam informação, repassada pelo Disque-Denúncia, de que várias caixas de remédios estavam no pátio da Associação de Moradores e Amigos do Conjunto Esperança, no Complexo da Maré, em Benfica, na Zona Norte do Rio.
Quando chegaram no endereço, na Rua José Moreira Pequeno, próximo à Rua do Valão, os policiais descobriram que, além das caixas de Tocilizumab – que seriam entregues no Centro de Radioterapia e Medicina Nuclear, no Centro do município de Juiz de Fora, em Minas Gerais -, havia dezenas de embalagens do tranqüilizante Bromazepan, do antiinflamatório Reparil e de Bramin – usado para alívio ou eliminação de náuseas e vômitos em geral, inclusive da gravidez, em pré e pós-operatórios, no tratamento e na prevenção de enjôos causados por viagens marítimas, terrestres e aéreas, nas labirintites e vertigens em geral.
Além dos medicamentos, os PMs apreenderam preservativos – inclusive aromatizados, nos sabores morango, chocolate e menta – e produtos hospitalares. Entre eles, equipamentos para cirurgias ortopédicas e ventosas para uso em pacientes internados receberem soro fisiológico e outras substâncias.
“Recebemos um Disque-Denúncia dando conta de que materiais roubados se encontravam no interior da comunidade e após a realização de trabalho de inteligência, verificamos que os traficantes pretendiam montar um pequeno hospital para atender aos meliantes que porventura fossem feridos em confronto com a Polícia”, explicou o tenente Fabrício Vital, do Serviço de Inteligência (P-2) do 22º BPM.
“Para isso, os criminosos tinham consigo maquinário hospitalar, diversos tipos de medicamento e material cirúrgico, que foram roubados e colocados à disposição dos traficantes”, ressaltou.
Com apoio de policiais lotados no Grupamento de Ações Táticas (GAT) da unidade, foi realizada incursão no local, sob comando do capitão Marcos André.
“Eles roubaram a carga e quando descobriram que eram produtos médicos, resolveram criar uma unidade de saúde”, afirmou o capitão, que ligou para a empresa Roche, responsável pelos frascos de Tocilizumab, e foi informado de que a carga roubada estava avaliada em R$ 250 mil e não poderia ser reaproveitada.
Todo o material apreendido foi encaminhado à 21ª DP (Bonsucesso), onde foi realizado o registro. A Polícia, agora, tenta descobrir onde o roubo foi registrado.
O tráfico de drogas no Conjunto Esperança é controlado pelo traficante conhecido como Menor P ou Poeta, integrante do TCP. A facção também é responsável pelo tráfico em outras favelas da Maré. O Complexo da Maré engloba as localidades Baixa do Sapateiro, Conjunto Bento Ribeiro Dantas, Conjunto Esperança, Conjunto Marcílio Dias, Conjunto Pinheiro, Nova Holanda, Nova Maré, Parque Maré, Parque Roquete Pinto, Parque Rubens Vaz, Parque União, Praia de Ramos, Salsa e Merengue, Timbau, Vila do João e Vila do Pinheiro. Somente as favelas Nova Holanda e Parque União pertencem à facção rival Comando Vermelho (CV), enquanto a Praia de Ramos é controlada por um grupo miliciano.